segunda-feira, 27 de julho de 2015

UESC participa do 3º Congresso da União dos Estudantes Secundaristas de Tacaimbó







         No dia 27 de julho de 2015 foi realizado o 3º Congresso da União dos Estudantes Secundaristas de Tacaimbó – UESTA, no auditório da EREM José Leite Barros.
  Contamos com a participação de cerca de 150 estudantes de várias escolas como o EREM José Leite Barros, da Escola Francisco de Assis Barros, da Escola Municipal Maria Luiza, entre outras. Compuseram a mesa de abertura do Congresso, Luiz Armando diretor da União dos Estudantes Secundaristas de Caruaru, Ronaldo José da União da Juventude Rebelião - UJR, Rafaela gestora do EREM José Leite Barros, Luiz Cavalcanti, vice – presidente do Grêmio do EREM José Leite Barros, Ednilza professora da Escola Maria Luiza e Felipe Barros diretor da UESPE que coordenou os trabalhos do congresso. Também recebemos a presença de Antônio Fernando, o Professor Toinho ex-gerente da Gerência Regional de Educação de Caruaru e ex-secretário de educação de Caruaru, que durante sua gestão na EREM José Leite Barros recebeu vários prêmios estaduais, nacionais e internacionais de qualidade em gestão escolar.
   Temas como: Corte de verbas da educação, Contra a restrição a meia - entrada, a Crise do capitalismo e o papel da Juventude, o Papel do Movimento Estudantil, Pela punição de todos os torturadores e assassinos da ditadura militar, entre outros temas foram debatidos no congresso, reafirmando que os estudantes tem um papel importantíssimo na vanguarda das lutas da conjuntura de crise que nosso pais está passando e será com muita luta, combatividade e garra que os estudantes ao lado da classe trabalhadora irá barrar os ataques dos poderosos.
   Também foi aprovada uma moção de repúdio contra a redução da maioridade penal. Para os estudantes presentes a aprovação da PEC 171/93 é um ataque aos direitos fundamentais da juventude, além de não ser a solução para solucionar a violência em nosso país, pois não é culpa da juventude a desigualdade social  que vivemos e sim do Estado.
  Ao final foi aprovada as propostas e a nova diretoria da UESTA que terá o papal de construir um movimento combativo na cidade e levantar as principais bandeiras de luta da juventude e da classe trabalhadora. Tendo como presidente eleita a estudante Emanoela da Silva do EREM José Leite Barros para a gestão 2015 – 2017.




segunda-feira, 13 de julho de 2015

Carta dos estudantes aos deputados favoráveis a redução



Senhor deputado, senhora deputada, pode me ouvir? Sei que muitas vezes não dá pra perceber que estou aqui. Eu não tenho ainda tanta voz e não participo das maiores decisões deste país. Sou a juventude brasileira, historicamente excluída da política, minoria absoluta no Congresso Nacional. Mas preciso falar com você e pedir mais uma vez: Vote contra a proposta de redução da maioridade penal no Brasil.
Sou uma fatia imensa da população brasileira, com 51 milhões de habitantes, mas sofro com muitas dificuldades. Eu não sei se você sabe, mas sou a maior vítima da violência no Brasil – e não a culpada. Sou muito assassinada, estuprada, violentada diariamente. Meu sangue escorre o tempo inteiro, está escorrendo agora, enquanto você lê esta mensagem.
Entre 1980 e 2010, os homicídios de crianças e jovens cresceram 346%, de acordo com dados do Ministério da Saúde. A grande maioria dessa juventude é pobre, negra e moradora das periferias. Só no ano de 2010, foram 8.686 crianças e adolescentes assinados, ou seja, 24 por dia.
Nunca tive educação pública adequada, nunca tive políticas sólidas de cultura, esporte, empreendedorismo, vivo em um país que nunca me teve como prioridade. E mesmo assim, alguns querem me castigar ainda mais com a proposta irracional da redução. A cadeia, definitivamente, é o pior lugar para mim.
O Mapa do Encarceramento, divulgado recentemente pela Secretaria Nacional de Juventude, mostra que a população carcerária do Brasil cresceu 74% entre 2005 e 2012, que o perfil dos presos já é predominantemente de jovens negros e que o sistema prisional não ressocializa ninguém. O Estatuto da Criança e do Adolescente é o modelo adequado para a reintegração e a recuperação daqueles que cometeram crimes, mesmo os crimes contra a vida. Senhor deputado, senhora deputada, vamos tentar salvar pelo menos alguma vida nesse cenário doloroso, vamos buscar o potencial latente naquele indivíduo. Vamos tentar o bem, é o que nos cabe.
A redução, além de tudo, abre uma perigosa brecha jurídica ao rever a imputabilidade dos indivíduos no artigo 228 da Constituição. A fronteira entre o imputável e o inimputável irá se tornar obscura, incerta, permitindo interpretações e legislações totalmente danosas aos jovens e à sociedade nos mais diferentes casos. Nenhum país do mundo diminuiu a violência com a redução da maioridade, nem a ONU, nem a Anistia Internacional, nenhum dos organismos mundiais especializados na criança e do adolescente apoiam essa ideia. Por que você apoiaria?
Como foi lembrado recentemente, a instituição da maioridade em 18 anos no Brasil foi estabelecida em 1926, quando um pobre menino engraxate de 12 anos levou um calote de um homem mais velho e reagiu jogando-lhe tinta. O garoto foi para a cadeia, onde foi estuprado pelos presos adultos, espancado e agredido de todas as formas.
O Jornal do Brasil noticiou o caso e, com a repercussão da barbárie, o presidente Washington Luís instaurou a idade mínima de 18 para o encarceramento. Senhor deputado, senhora deputada, será você que emprestará o seu nome para que voltemos a 1926?
Vote NÃO à redução, vote pela minha vida.
Juventude Brasileira

Razões porque a UESC, UESPE e a FENET são contra a redução da maioridade penal



Confira os 18 argumentos das entidades estudantis contra o projeto que tramita no Congresso Nacional para diminuir a maioridade de 18 para 16 anos 
1. Porque a juventude quer viver!
É urgente implementar, de fato, soluções que previnam a criminalidade, como escolas mais atrativas e de tempo integral, popularização das universidades, assistência estudantil, saúde, meia-entrada para o acesso ao lazer, à cultura e ao esporte, mais políticas públicas para a juventude.
2. Porque a juventude quer estudar
Mais eficiente seria pensarmos nos problemas que afetam nossos jovens, como a evasão escolar. De acordo com dados do Censo 2010, cerca de 7 milhões de crianças e adolescentes estão fora da escola. Desse total, 1,5 milhão são adolescentes entre 15 e 17 anos.
3. Porque prevenir é melhor do que punir
Ao invés de repressão, mais violência e punições, precisamos de políticas de prevenção que afastem o jovem da convivência com o que há de pior em nossa sociedade: a pobreza, as drogas, o abuso, a exploração sexual, o trabalho infantil, entre outros fatores prejudiciais, garantindo uma educação de qualidade, com equidade e respeito.
4. Porque reduzir a maioridade penal não reduz a violência
Muitos estudos no campo da criminologia e das ciências sociais têm demonstrado que NÃO HÁ RELAÇÃO direta de causalidade entre a adoção de soluções punitivas e repressivas e a diminuição dos índices de violência. Dados do Unicef revelam a experiência mal sucedida dos EUA. O país aplicou em seus adolescentes penas previstas para os adultos. Os jovens que cumpriram pena em penitenciárias voltaram a delinquir e de forma mais violenta. O resultado concreto para a sociedade foi o agravamento da violência.
5. Porque a lei já existe
Qualquer adolescente, a partir dos 12 anos, já é responsabilizado pelo ato cometido contra a lei. Essa responsabilização é executada por meio de medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
6. Porque cadeia não muda nada
Não há dados que comprovem a relação direta entre rebaixamento da idade penal e redução dos índices de criminalidade juvenil. Ao contrário, o ingresso antecipado no falido sistema penal brasileiro expõe os adolescentes a mecanismos/comportamentos reprodutores da violência.
7. Porque o índice de reincidência nas prisões é de 70%
A redução pode gerar um aumento da violência e das chances de reincidência, uma vez que as taxas nas penitenciárias são de 70% enquanto no sistema socioeducativo estão abaixo de 20%.
8. Porque reduzir a maioridade é tratar o efeito, e não a causa
Agir punindo e sem se preocupar em discutir quais os reais motivos que reproduzem e mantém a violência, só gera mais violência. O adolescente marginalizado não surge ao acaso. Ele é fruto de um estado de injustiça social. Precisamos combater a desigualdade social, o racismo e todo tipo de opressão a nossos jovens.
9. Porque o Brasil está dentro dos padrões internacionais
De uma lista de 54 países analisados, a maioria deles adota a idade de responsabilidade penal absoluta aos 18 anos de idade, como é o caso brasileiro. Das 57 legislações analisadas pela ONU, 17% adotam idade menor do que 18 anos como critério para a definição legal de adulto.
10. Porque a fase de transição justifica o tratamento diferenciado
A imposição de medidas socioeducativas e não das penas criminais relaciona-se justamente com a finalidade pedagógica que o sistema deve alcançar, e decorre do reconhecimento da condição peculiar de desenvolvimento na qual se encontra o adolescente.
11. Porque as leis não podem se pautar na exceção
Os jovens infratores são a minoria, no entanto, é pensando neles que surgem as propostas de redução da idade penal. Cabe lembrar que a exceção nunca pode pautar a definição da política criminal e muito menos a adoção de leis, que devem ser universais e valer para todos.
12. Porque reduzir a maioridade penal isenta o Estado do compromisso com a juventude
O que estamos vendo é uma mudança de um tipo de Estado que deveria garantir direitos para um tipo de Estado Penal. O Brasil não aplicou as políticas necessárias para garantir à juventude o pleno exercício de seus direitos.
13. Porque os adolescentes são as maiores vítimas, e não os principais autores da violência
Até junho de 2011, cerca de 90 mil adolescentes cometeram atos infracionais. Destes, cerca de 30 mil cumprem medidas socioeducativas. O número, embora considerável, corresponde a 0,5% da população jovem do Brasil que conta com 21 milhões de meninos e meninas entre 12 e 18 anos.
Já os homicídios de crianças e adolescentes brasileiros cresceram vertiginosamente nas últimas décadas: 346% entre 1980 e 2010. De 1981 a 2010, mais de 176 mil foram mortos e só em 2010, o número foi de 8.686 crianças e adolescentes assassinadas, ou seja, 24 POR DIA!
14. Porque o problema da violência é causado por uma série de fatores
Vivemos em um país com escassez de ações de planejamento familiar, pouca oferta de lazer nas periferias, lentidão de urbanização de favelas, pouco policiamento comunitário.
15. Porque o voto aos 16 não tem nada a ver com ser preso aos 16
O voto aos 16 anos é opcional e não obrigatório, direito adquirido pela juventude. O voto não é para a vida toda, e caso o adolescente se arrependa ou se decepcione com sua escolha, ele pode corrigir seu voto nas eleições seguintes.
16. Porque a redução afronta leis brasileiras e acordos internacionais
Vai contra a Constituição Federal Brasileira que reconhece prioridade e proteção especial a crianças e adolescentes. A redução é inconstitucional. Vai contra o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) de princípios administrativos, políticos e pedagógicos que orientam os programas de medidas socioeducativas. Vai contra a Doutrina da Proteção Integral do Direito Brasileiro que exige que os direitos humanos de crianças e adolescentes sejam respeitados e garantidos de forma integral e integrada às políticas de natureza universal, protetiva e socioeducativa.
Vai contra parâmetros internacionais de leis especiais para os casos que envolvem pessoas abaixo dos dezoito anos autoras de infrações penais. Vai contra a Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Declaração Internacional dos Direitos da Criança compromissos assinados pelo Brasil.
17. Porque importantes órgãos têm apontado que não é uma boa solução
A UNICEF expressa sua posição contrária à redução da idade penal, assim como à qualquer alteração desta natureza. Acredita que ela representa um enorme retrocesso no atual estágio de defesa, promoção e garantia dos direitos da criança e do adolescente no Brasil. A Organização dos Estados Americanos (OEA) comprovou que há mais jovens vítimas da criminalidade do que agentes dela.
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) defende o debate ampliado para que o Brasil não conduza mudanças em sua legislação sob o impacto dos acontecimentos e das emoções. O CRP (Conselho Regional de Psicologia) lança a campanha Dez Razões da Psicologia contra a Redução da idade penal. CNBB, OAB, Fundação Abrinq lamentam publicamente a redução da maioridade penal no país.
18. Porque a redução não é a solução
A redução da maioridade penal é uma disputa política que foi ressuscitada por um Congresso nunca antes tão conservador desde a redemocratização do Brasil. Junte-se a UESC UESPE, FENET e outros movimentos sociais na luta contra este retrocesso para a juventude brasileira.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Porque a prisão não é o melhor lugar



Com a redução da maioridade penal, a responsabilidade do Estado será reduzida e as medidas socioeducativas serão amplamente substituídas pelo encarceramento da juventude. E o que acontece depois?
O medo da população diante do problema da violência é o que sustenta o principal argumento das pessoas que defendem a redução da maioridade penal. Para elas, mesmo que os crimes cometidos por menores infratores representem menos de 1% dos casos, a alternativa mais prática seria a redução da maioridade penal, substituindo medidas socioeducativas pelo tradicional sistema prisional do país como punição.
Os estudantes, que junto aos movimentos sociais tem se posicionado contra a proposta da redução, compreendem que esse é um debate de grande importância para esclarecer o que está em jogo com a tramitação da PEC 171.
Para isso, o site da UBES reuniu algumas informações sobre o impacto da redução da maioridade penal e os riscos que ela representa para o Brasil.

CRISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO

No modelo atual, no qual a maioridade é fixada em 18 anos, os jovens infratores representam 8% do número total da população carcerária adulta (715.655, incluindo as prisões domiciliares). Reduzir a maioridade penal, antes de tudo, é estar de acordo que mais uma faixa etária de 16 e 17 anos padeça das mesmas mazelas que o atual sistema prisional.
De acordo com o levantamento realizado pelo G1 no último mês, o país vive hoje um déficit de 244 mil vagas nas cadeias. No raio-x do sistema, Pernambuco é o retrato da superlotação, onde há cinco meses apresenta situação de emergência com sucessivas rebeliões e funciona com três vezes mais presos que sua capacidade.
Para a socióloga Camila Nunes Dias, da UFABC, os números mostram que a prisão não é mais uma opção viável. “Nem economicamente, pelos custos, nem socialmente, porque ela amplifica a violência, pelas suas próprias características, de estar absolutamente dominada por facções criminosas”, afirma.
Pedrinhas, no Maranhão, famosa pela violência das rebeliões, continua um dos maiores exemplos de como a brutalidade do sistema prisional brasileiro é pensada, premeditada e calcada na sistemática violação de direitos.
Em reportagem publicada pela Carta Capital, há tortura declarada entre agentes estatais e entre os próprios detentos; celas com superlotação, sem ventilação ou higiene; não há oferta de trabalho ou educação; presos com problemas psiquiátricos sem acompanhamento médico; a comida servida quase sempre azeda e inexistência de água potável para os presos que dividem o espaço com ratos e baratas.

A REDUÇÃO AUMENTARIA A SUPERLOTAÇÃO

No último dia 30 de junho o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também afirmou que a eventual redução da maioridade penal trará “consequências desastrosas” para a segurança pública do país. Ao citar dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Cardozo disse que seria necessário um outro sistema prisional para absorver o déficit que tende a piorar diante da aprovação PEC 171.
O ministro afirmou que as estimativas do Depen são de que de 30 a 40 mil jovens ingressariam no sistema prisional por ano caso a maioridade penal passasse para 16 anos.

QUEM LUCRA COM A REDUÇÃO?

Quem lucra com o “inchaço” das cadeias? Sem dúvidas, Pedrinhas permanece sendo o modelo tradicional do que tende a se repetir por outros estados. A quase totalidade dos funcionários das unidades continua vinculada à empresas terceirizadas que faturam milhões de reais na gestão. São companhias que ofertam mão de obra mal paga, menos qualificada e mal treinada. De acordo com informações divulgadas na mídia, a firma contratada pertence a um empresário que seria sócio em outros negócios de indivíduos ligados à família Sarney.
O interesse em privatizar o sistema prisional também pode ser força motora para que muitos parlamentares – que possuem suas campanhas eleitorais financiadas por empresários – se posicionem favoráveis à redução, forçando uma “alternativa” para lidar com a crise do atual sistema.
Mais uma vez, a PEC 171 aponta caminho para as privatizações, situação na qual o Estado, sucateado e, sobretudo, saturado, assumiria sua ineficiência transferindo sua função mais básica para empresas que podem realizar o serviço através da obtenção de lucro.
No Brasil foi inaugurada em 2013, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), a primeira unidade privada, porém já existem em pelo menos outras 22 localidades presídios com o serviço terceirizado.

Veja quem é contra reduzir a maioridade penal



Saiba quem é contrário à PEC que reduz a maioridade de 18 para 16 anos e conheça os argumentos. Participe deste debate e diga não ao retrocesso
Líderes comunitários, artistas, pesquisadores, juristas, políticos e representantes de diversas entidades da sociedade civil já se manifestaram publicamente contra a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição que prevê a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos (PEC 171/93) e está em tramitação no Congresso Nacional.
Na madrugada desta quinta-feira (2), a Câmara dos Deputados aprovou em 1º turno a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, nos casos de crimes hediondos. A presidenta Dilma Rousseff já manifestou sua posição contrária a qualquer proposta que reduza a maioridade penal.
Assim como o governo, uma grande parte da opinião pública também é contrária ao projeto.
Veja dezenas de pessoas e entidades que já se manifestaram publicamente contra a redução da maioridade penal:
Chico Buarque
Compositor, nas redes sociais da Campanha Amanhecer Contra a Redução
“O ódio já se manifestou. Agora é a vez da cultura dizer que é contra a redução da maioridade penal.”
Lázaro Ramos
Ator, em entrevista ao site Brasileiros
“A redução da maioridade penal e o alijamento desses adolescentes de nossa sociedade, para colocá-los na cadeia, não será a solução. A reincidência de encarceramento nas prisões para adultos é de 70%, enquanto que no sistema socioeducativo é inferior a 20%. Acho que vale a pena fazer uma leitura solitária do problema e não ficar apenas indo atrás de frases feitas, nas quais a questão é resumida e simplificada quando, na verdade, ela é muito complexa”.
Caetano Veloso
Músico, em suas redes sociais
“Hoje, quando acordei, eu vi que, embora não tivesse passado, numa manobra durante a madrugada, na Câmara passou a redução da maioridade penal. Eu sou contra.”
Gilberto Gil
Músico, nas redes sociais
“Eu não vejo vantagem nenhuma. Ao contrário, tem uma série de implicações novas, e complicações novas, que vão surgir com essa coisa da redução da maioridade penal. Não é um bom projeto [...] Então, somos contra”.
Dilma Rousseff
Presidenta da República, em discurso no 3º Encontro Nacional da Juventude Rural
“Toda a experiência demonstra que a redução da maioridade penal não resolve a questão da violência. Nós defendemos que a pena seja agravada para o adulto que utilizar o jovem como escudo dentro de uma organização criminosa. Não é punir o jovem, mas agravar a pena daquele adulto que usou o jovem para a sua ação.”
Daniela Mercury
Cantora e embaixadora da Unicef no Brasil, em suas redes sociais
“Populismo, crueldade, injustiça e maldade. A diminuição da maioridade penal não diminui a violência [e] é ato de preconceito, racismo e ignorância. A maioria dos adolescentes que for para uma penitenciária de adultos sairá treinada para o crime, não recuperada e ainda será jovem. E ai?”
Carlos Ayres Britto
Jurista e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), em entrevista ao Portal Brasil
“Há um conjunto de dispositivos esparramados pela Constituição conferindo ao indivíduo o direito de formar a sua personalidade até os 18 anos, não antes [...]. Até os 18 anos, ele é considerado ‘pessoa ainda em desenvolvimento’, cuja personalidade básica, para compreender a natureza de seus atos e responder por eles, ainda não se formou.”
Ângela Guimarães
Presidenta do Conselho Nacional da Juventude, em entrevista à Agência Brasil
“Países que têm a experiência de encarceramento de adolescentes com 12, 14 e 16 [anos de idade] demonstram a falência desse tipo de medida e, inclusive, já estão revendo. Quando um jovem cumpre seu itinerário de escola, de acesso a equipamento público de lazer e cultura, de políticas de qualificação profissional, ele só tem a contribuir para a nação.”
Marieta Severo
Atriz, em entrevista para o jornal O Globo
“Sou contra a redução da maioridade penal e contra muita coisa que está em evidência e que, para a minha geração, é chocante. Há um retrocesso que nunca imaginei. Eu sou da década de 1960, do feminismo, da liberdade sexual, das igualdades todas.”
Orlando Zaccone
Delegado do Caso Amarildo, em entrevista à RCTV, do jornal Correio da Paraíba
“Adolescente não é vetor de violência, ele é vítima. O Brasil é o sexto país do mundo em números de violência contra crianças e adolescentes. Dos fatos noticiados dos crimes cometidos por adolescentes, apenas 8% são violentos e menos de 1% dos homicídios são causados por menores.”
Wagner Moura
Ator, em entrevista à revista Isto É
“Eu sou totalmente contra. Primeiro, porque não vai adiantar nada. Segundo, porque é mais uma forma de criminalizar o preto pobre da favela. Prender crianças? Em vez de criar presídio pra colocar criança deveriam criar escola, criar biblioteca, criar formas de tirar crianças pobres da criminalidade. E não prender.”
Gregório Duvivier
Ator e escritor, em suas redes sociais
“Eu sou contra a redução da maioridade penal e acho que neste momento é fundamental a gente se reunir e debater sem o calor do ódio.”
6 governadores do Nordeste, em “Carta dos Governadores contra a Redução da Maioridade Penal”
“Temos convicção de que a redução da maioridade penal não irá contribuir para diminuir as taxas de criminalidade. Na verdade, o que ocorrerá é que crianças de 13 ou 14 anos serão convidadas a ingressar no mundo da criminalidade, sobretudo tráfico de drogas, desse modo alimentando-se de uma limitada espiral de repressão ineficaz.”
Nota da Redação: Flávio Dino (Maranhão), Paulo Câmara (Pernambuco), Camilo Santana (Ceará), Ricardo Coutinho (Paraíba), Wellington Dias (Piauí) e Rui Costa (Bahia) na ”Carta dos Governadores contra a Redução da Maioridade Penal“.
Marcus Vinicius Furtado Coêlho
Presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em nota oficial da entidade
“A OAB reitera sua histórica posição sobre o tema, considerando um equívoco colocar mais alunos nas universidades do crime, que são os presídios do País. Mais adequado é aumentar o rigor de sanção do Estatuto da Criança e do Adolescente, aumentar o prazo de internação, ampliar o período diário de serviços comunitários para quem comete delitos, obrigar a frequência escolar e o pernoite em casa, além de investir na inclusão de todos.”
Dexter
Rapper, em entrevista ao Portal da Juventude
“Com a redução, as mesmas pessoas vão continuar pagando, sendo bodes expiatórios do sistema. Isso não é solução para os casos de violência. Nos países que reduziram e depois voltaram atrás, eles perceberam que a redução do índice de criminalidade dos jovens não dependia dos investimentos em repressão e opressão, mas sim da educação.”
Joaquim Barbosa
Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), em suas redes sociais
“Eu apoio integralmente a posição do governo federal, contrária à redução da maioridade penal. Estão brincando com fogo. Quem conhece as prisões brasileiras (e os estabelecimentos de ‘ressocialização’ de menores) não apoia essa insensatez. A violência já é uma das marcas do Brasil. Estão adicionando um poderoso combustível a essa violência. Aguardem. Ao visitar um centro de confinamento de menores de um estado do Nordeste, presenciei umas das mais chocantes cenas de horror da minha vida. Desconfiemos dos propósitos e da ideologia dessa maioria parlamentar que quer impor a sua agenda ao nosso País.”
José Renato Nalini
Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, em participação no programa Roda Viva, da TV Cultura
“Sempre me posicionei contra essa redução, acho que é um equívoco. Quando reduzirmos, não vamos parar nos 16 anos. Vamos acreditar posteriormente que com 14 anos a juventude terá condições de responder pelas suas infrações. Deixaremos muita gente fora da Fundação Casa, que hoje abriga os infratores. Quando forem imputáveis, a delinquência vai permitir com que sejam soltos de imediato. Acho melhor combater não os efeitos, mas as causas [da delinquência].”
Joanna Maranhão
Nadadora, em suas redes sociais
“Não sou a favor da redução da maioridade penal. Não há nada, não há nenhum dado que me convença de que isso resolve violência.”
Jorge Du Peixe
Vocalista da banda Nação Zumbi, nas redes sociais do Humaniza Redes
“Já é sabido que o índice de violência por parte dos jovens é muito baixo. Algumas pessoas tentam mudar essa informação, mas nós sabemos que não é verdade.”
José Eduardo Cardozo
Ministro da Justiça, em entrevista ao Portal Planalto
“A redução da maioridade penal será um desastre. Sob todos os aspectos. Nós temos que perceber que ela trará um colapso ao sistema penitenciário, trará problemas gravíssimos de segurança. É importante pensar que nós precisamos dar uma resposta para isso.
Não tenho a menor dúvida que essa PEC não só não reduzirá a violência, como irá aumentá-la. Além de ser inconstitucional, uma vez que a maioridade penal é uma cláusula pétrea, intocável pelas emendas constitucionais, tem um outro problema gravíssimo que é seu mérito. Não há nenhum estudo científico no Brasil ou no mundo que demonstre que a redução da maioridade penal implica em redução da criminalidade.
O que existe é o contrário. Ou seja, estudos que atestem que a criminalidade sobe quando você reduz a maioridade penal e passa a julgar crianças e adolescentes como adultos.”
Laerte Coutinho
Cartunista, em entrevista ao Portal Brasil
“Países onde a maioridade é de 16 anos estão revendo sua legislação. Reduzir a maioridade penal é uma sacanagem total. Não resolve coisa alguma e só penaliza mais ainda uma juventude infelicitada de centenas de formas em nosso país.”
Gabriel Medina
Secretário Nacional da Juventude, durante o lançamento do Mapa do Encarceramento — Os Jovens do Brasil
“Estamos diante de uma discussão que o Congresso coloca que é a redução da maioridade penal, inclusive com disposição de acelerar essa votação. A juventude já vem sendo encarcerada e não resulta em melhora.”
Marina Silva
Política, ex-senadora da República e ex-ministra do Meio Ambiente, em suas redes sociais
“Essa história de criminalizar a infância não é a solução para nos dar segurança. Muito pelo contrário, quando a gente não protege os idosos e os jovens, alguma coisa errada está acontecendo com essa sociedade [...] devemos continuar atentos aos passos do Congresso para fazer com que trabalhem para garantir educação de qualidade e igualdade de oportunidades para os jovens, estas sim as principais demandas da sociedade. Esse é o caminho para sermos um país mais inclusivo e menos violento, onde os jovens, sobretudo negros e pobres, não sejam condenados à criminalidade.”
Alexandre Nero
Ator, em suas redes sociais
“Você é a favor da redução da maioridade penal até um moleque desses abrir um sorriso iluminado e uma gargalhada gostosa, mesmo não tendo nenhuma perspectiva de melhorar a própria vida.”
Mano Brown
Rapper, em entrevista ao site Rap Nacional, em julho de 2013
“Sou contra [a proposta de redução da maioridade]. No dia em que o Brasil oferecer as condições para esse jovem ser o que o Brasil quer que ele seja, daí o Brasil pode punir da maneira que achar justo. Não é justo a maneira com que os moleques vivem, não é justo punir da forma que o Brasil quer. Mesmo que a maioria queira, não é justo.”
Renato Janine Ribeiro
Ministro da Educação
“Essas questões [redução da maioridade penal] requerem muito mais uma discussão e uma ação educativa do que um viés estritamente punitivo.”
Danny Glover
Ator americano, em entrevista à TV CUT
“Obviamente, esta iniciativa de redução da idade, de processar crianças, sim, crianças com idade inferior a 18 anos, como adultos, é uma nova forma de racismo.”
Pedro Carlos Bitencourt Marcondes
Desembargador e presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em debate realizado pelo TJMG
“Representa um desrespeito à Constituição Federal e aos ideais humanitários, por não dar o devido tratamento àqueles que estão em processo de formação e precisam de cuidados e de proteção.”
Xico Sá
Jornalista, na campanha Amanhecer contra a redução
“A juventude é vítima, devemos reconhecê-la como cidadã.”
Leonardo Sakamoto
Jornalista, em suas redes sociais
“O resultado é que estamos indo pela saída fácil do populismo parlamentar, abrindo as portas do Coliseu e entregando jovens aos leões para enganar a massa, ao invés de garantir aos mais pobres o quinhão de dignidade que os mais ricos têm desde o berço, o que criaria uma sociedade mais segura, ainda que imperfeita.”
Eliane Brum
Jornalista, em sua coluna na versão eletrônica do jornal El País
“A redução da maioridade penal como medida para diminuir a impunidade e aumentar a segurança é uma fantasia fabricada para encobrir a verdadeira violência.”
Luis Fernando Veríssimo
Escritor, em sua coluna no jornal O Estado de S.Paulo
“Nos dois casos [redução da maioridade penal e o julgamento do atentado em Boston], o que se propõe é um retrocesso, a suspensão de conquistas da civilização para enfrentar exigências extremas: no caso americano o combate exemplar ao terrorismo, que não comportaria filigranas jurídicas, no nosso caso a evidência de que cada vez mais crimes são cometidos por menores, inimputáveis segundo a legislação. A conclusão nos dois casos é que o processo civilizatório que priorizou a proteção dos direitos de todos, inclusive de criminosos, foi uma conquista da retórica dos bons sentimentos, impraticável diante da crua realidade. Os casos extremos testam a possibilidade de a razão e de a ponderação conviverem com o embrutecimento geral da espécie, e para enfrentá-los retrocedemos ao tempo em que não havia proteção alguma contra a prepotência do Estado ou erro da justiça. Quando não retrocedemos ao tempo da reciprocidade bíblica, do olho por olho, de uma atrocidade vingando outra. E o verniz da civilização se despedaça.”
Nota da Redação: Em sua coluna no jornal O Estado de S.Paulo, em abril de 2013, o escritor Luis Fernando Veríssimo afirmou que a proposta de redução da maioridade penal no Brasil era comparável ao caso do suspeito de terrorismo no atentado de Boston, nos Estados Unidos, que poderia ser julgado como “combatente inimigo”, por um tribunal militar, com direitos restritos e morte garantida caso fosse condenado. O suspeito foi julgado como cidadão americano, mas condenado à morte em 15 de maio de 2015.
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em carta aberta
“A redução da maioridade penal não é solução para a violência que grassa no Brasil e reforça a política de encarceramento num país que já tem a quarta população carcerária do mundo. Investir em educação de qualidade e em políticas públicas para a juventude e para a família é meio eficaz para preservar os adolescentes da delinquência e da violência (…). Ao invés de aprovarem a redução da maioridade penal, os parlamentares deveriam criar mecanismos que responsabilizem os gestores por não aparelharem seu governo para a correta aplicação das medidas socioeducativas.”
Mariza Monteiro Borges
Presidenta do Conselho Federal de Psicologia, em entrevista ao Portal Planalto
“O CFP coloca-se a favor das garantias de direitos essenciais para as crianças e adolescentes, como o direito à moradia, à educação, à saúde. Entendemos que atos infracionais são um indicador de que o Estado, a sociedade e a família não têm cumprido adequadamente seu dever de assegurar, com absoluta prioridade, os direitos da criança e do adolescente. Além disso, a ciência comportamental aponta que a reversão do comportamento infrator envolve o investimento em práticas educativas que almejem a elevação da autoestima e a preparação das crianças e dos adolescentes para a vida profissional.”
Camila Pitanga
Atriz, em suas redes sociais
“Jovens do Brasil inteiro se mobilizando contra a redução da maioridade penal. Olhe para as suas praças, ouça o que os jovens querem dizer.”
Mario Volpi
Representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em vídeo do Unicef
“Culpar os adolescentes pela violência não é a solução. Apenas 0,01% dos adolescentes no Brasil cometeram atos contra a vida. No entanto, a cada hora um adolescente é assassinado no Brasil. A solução para o problema da violência no País é criar oportunidades para que os adolescentes possam desenvolver os seus talentos, realizar seus sonhos, sem praticar delitos. Para aqueles que cometerem crimes, temos que ter um sistema suficientemente rigoroso, para recuperá-los e interromper essa trajetória. Tratar adolescentes como adultos não vai resolver o problema.”
Cesar Muñoz
Pesquisador do Human Rights Watch, em entrevista ao Portal Planalto
“A proposta de reduzir a maioridade penal é uma ideia muito errada. E aí são dois argumentos principais dentro de muitos argumentos contra. O primeiro é que claramente para nós [da Human Rights Watch] a proposta viola as obrigações do Brasil perante o direito internacional, que proíbe tratar adolescentes como adultos no sistema penal. O segundo argumento é que as experiências em outros países mostram que processar adolescentes como adultos em geral produz uma maior reincidência. O argumento de que vai reduzir o crime não tem evidência. Onde houve estudos mais interessantes foi nos Estados Unidos. A tendência agora é diferente, a tendência é ir na direção contrária.”
Pedro Hartung
Advogado e representante do Instituto Alana, em entrevista ao Portal Brasil
“Antes de se pensar em qualquer tipo de redução de direitos, nós precisamos efetivar os direitos positivados a crianças e adolescentes em sua integralidade. Enquanto esses direitos não forem integralmente efetivados, certamente, nós não podemos retirar outros direitos.”
João Ricardo Costa
Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, em entrevista à Agência Brasil
“A redução da maioridade vai agravar o quadro de violência e de criminalidade no País, uma vez que o sistema carcerário brasileiro não ressocializa. Colocar adolescentes em presídios é devolver à sociedade jovens ainda mais violentos. É necessário que tenhamos políticas públicas para reduzir os crimes e garantir a segurança da população também por meio da ressocialização.”
Instituto Sou da Paz, no site soudapaz.org
“A maioridade penal é aquela a partir da qual o indivíduo que comete crimes será julgado como adulto. Em países como Inglaterra, Holanda, França, Alemanha e Espanha ela é fixada em 18 anos ou mais. Já a responsabilidade penal é a possibilidade de adolescentes serem responsabilizados por seus atos no sistema de justiça juvenil. No Brasil, a partir de 12 anos os adolescentes são acompanhados pelas medidas socioeducativas, que compreendem que o ato infracional não está vinculado somente àquele que o pratica, mas, também, à sociedade da qual fazemos parte. O Sou da Paz é contra a redução da maioridade penal e tem destacado que endurecer a punição dos jovens em conflito com a lei não vai resolver o problema da violência no Brasil.”
Juca Ferreira
Ministro da Cultura, em depoimento ao site do Ministério da Cultura
“Criminaliza a juventude e não resolve o problema da violência no Brasil. Além disso, é uma tática diversionista, pois responsabiliza a juventude pela crise, pela violência. Na verdade, o que a gente precisa é de mais escola, mais cultura, mais assistência social, mais qualidade de serviços no Estado.”
Silvio César Maluf
Secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul, em entrevista ao jornal Correio do Estado
“Eu gosto de dizer que é uma falácia muito grande: a redução da maioridade penal não reduz crime, não salva sistema. A pessoa achar que por ser menor vai para a cadeia, desculpe, não vai diminuir, não vai.”
Thiago Machado
Gerente de Desenvolvimento Social do ChildFund Brasil, em entrevista ao Portal Planalto 
“Acreditamos que o Brasil tem uma boa legislação [a respeito do combate aos crimes cometidos por adolescentes]. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) reúne diferentes medidas socioeducativas para trabalhar com essa questão. O que a gente defende é ‘não à punição e sim a outras vias para trabalhar com jovens’ como o estudo, o trabalho. O que defendemos é menos prisão e mais escola. É nessa perspectiva. E o próprio ECA estabelece várias medidas nesse sentido também de se trabalhar a partir do lado de medidas socioeducativas. O que falta é uma execução a partir de políticas públicas.”
Suzana Varjão
Gerente de Qualificação de Mídia da Agência Nacional dos Direitos da Infância (ANDI), em entrevista ao Portal Planalto
“A ANDI é contra a redução da maioridade penal por diversos motivos, de ordem técnica e de ordem ética. Um dos principais é que é uma solução equivocada, fundada na emoção e não na razão, baseada em mitos e não em dados e construída a partir da perspectiva ideológica e não técnica. A redução, enfim, da maioridade penal é uma grande mentira, construída a partir de outra grande mentira: a da impunidade desses jovens, que, mais que autores de delitos, estão sendo usados pela criminalidade para assumir a autoria de infrações e crimes, sob o argumento de que não sofrerão consequências. E esses meninos só descobrem essa terrível inverdade muito tarde, quando já perderam, no mínimo, a liberdade.”
Pepe Vargas
Ministro-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, em entrevista ao Portal Planalto
“Entendemos que aqueles que defendem a redução da maioridade penal estão defendendo uma posição para a sociedade que não corresponde à realidade. País nenhum do mundo que reduziu a maioridade penal reduziu os índices de criminalidade e violência. Tanto é assim que muitos países que reduziram a maioridade penal já estão discutindo retorná-la para 18 anos. E a maioria dos países [do mundo] tem a maioridade penal aos 18 anos. Entendemos que isso é muito mais efetivo. O Brasil recentemente passou a ser o terceiro país do mundo com maior população carcerária. Nos últimos sete anos a população carcerária cresceu 74%. Nos últimos anos, também, o Congresso Nacional votou várias matérias que aumentaram as penas para determinados crimes. Isso demonstra também que não basta só aumentar penas e encarcerar, tem de haver um debate profundo sobre as causas da violência e criminalidade.”
Antonio Prata
Escritor, em suas redes sociais
“É hoje que o Congresso começa a votar essa temeridade que pode levar milhares de jovens acima de 16 anos para prisões comuns, de onde sairão com as vidas arruinadas e muito mais propensos e habilitados a arruinar a sua vida.”
Atila Roque
Diretor executivo da Anistia Internacional, em entrevista ao Portal Planalto
“É uma verdadeira tragédia do ponto de vista civilizatório. A redução da maioridade vai reforçar um conjunto de preconceitos que se coloca sobre o jovem, em especial sobre o jovem negro de periferia, além de mandar uma mensagem extremamente preocupante: a maneira pela qual o Brasil enfrenta o enorme déficit da violência. Os adolescentes são as vítimas mais frequentes da violência. A grande tragédia, o grande prejuízo é relegar uma geração de jovens a ter sua vida interrompida.”
Renato Rodovalho Scussel
Presidente da Associação Brasileira dos Magistrados da Infância e da Juventude, em entrevista ao Portal da AMB
“O debate sobre a redução da maioridade penal está num viés equivocado. O que existe é um maior clamor de segurança pública e reduzir a maioridade não adianta em nada. Quando se fala que mais de 83% da população é favorável à redução, na verdade vemos que 83% está querendo é mais segurança pública, uma polícia mais equipada e mais qualificada, o combate à corrupção”.
Juana Kweitel
Diretora de Programas da Conectas Direitos Humanos, em depoimento no site da entidade
“É consenso que a questão dos crimes praticados por jovens e adolescentes deve receber atenção especial por parte do Estado, pois se trata de pessoas ainda em formação. A redução da maioridade para 16 anos ignora esse entendimento e ainda parte do pressuposto que leis duras são a resposta para uma sociedade segura, o que é absolutamente falso.”
Fundação Abrinq, em nota técnica divulgada na internet
“A Fundação Abrinq é contrária à proposta de redução da maioridade penal por entender que: o adolescente é pessoa em desenvolvimento; que os adolescentes autores de ato infracional têm, em sua grande maioria, seus direitos violados antes de cometerem o ato infracional; e que a violência social e criminalidade envolvendo adolescentes entre 16 e 18 anos são problemas sistêmicos, que demandam uma solução intersetorial.”
Criolo
Rapper e cantor, em sua página nas redes sociais
“Falhamos em erradicar desigualdades e continuamos atropelando possibilidades. As causas são ignoradas e, assim, o amargo das consequências dilacera o peito e a esperança de nossa sociedade. Mas ainda há tempo de lutar por igualdade. Ainda há tempo de rever valores e acreditar no ser humano. Ainda o tempo é companheiro do aprender.”
Letícia Sabatella
Atriz, em sua rede social
“Uma vez ouvi de um rapaz, detido, que participava comigo de uma leitura dramatizada de Romeu e Julieta no presídio para menores infratores, que Shakespeare era mais emocionante do que assalto à mão armada! O gosto estético pela violência de Shakespeare, suplantava e dava conta de toda revolta e violência que ele tinha alimentada dentro de si. Shakespeare era uma porta de transcendência para escapar da tragédia na vida real. Arte, esporte, cultura antes da tortura, do crime, da prisão!”
Céu
Cantora e compositora, em sua página nas redes sociais
“Educai as crianças e não será preciso punir os homens” (frase atribuída a Pitágoras).

Fonte: Portal Planalto.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Quanto mais presos, maior o lucro



Em janeiro do ano passado (2013), assistimos ao anúncio da inauguração da “primeira penitenciária privada do país”, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Porém, prisões “terceirizadas” já existem em pelo menos outras 22 localidades, a diferença é que esta de Ribeirão das Neves é uma PPP (parceria público-privada) desde sua licitação e projeto, e as outras eram unidades públicas que em algum momento passaram para as mãos de uma administração privada. Na prática, o modelo de Ribeirão das Neves cria penitenciárias privadas de fato, nos outros casos, a gestão ou determinados serviços são terceirizados, como a saúde dos presos e a alimentação.
Hoje existem no mundo aproximadamente 200 presídios privados, sendo metade deles nos Estados Unidos. O modelo começou a ser implantado naquele país ainda nos anos 1980, no governo Ronald Reagan, seguindo a lógica de aumentar o encarceramento e reduzir os custos, e hoje atende a 7% da população carcerária. O modelo também é bastante difundido na Inglaterra – lá implantado por Margareth Thatcher – e foi fonte de inspiração da PPP de Minas, segundo o governador do estado Antônio Anastasia. Em Ribeirão das Neves o contrato da PPP foi assinado em 2009, na gestão do então governador Aécio Neves.
O slogan do complexo penitenciário de Ribeirão das Neves é “menor custo e maior eficiência”, mas especialistas questionam sobretudo o que é tido como “eficiência”. Para Robson Sávio, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) da PUC-Minas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, essa eficiência pode caracterizar um aumento das prisões ou uma ressocialização de fato do preso. E ele acredita que a privatização tende para o primeiro caso. Entre as vantagens anunciadas está, também, a melhoria na qualidade de atendimento ao preso e na infra-estrutura dos presídios.
Bruno Shimizu e Patrick Lemos Cacicedo, coordenadores do Núcleo de Situação Carcerária da Defensoria Pública de São Paulo questionam a legalidade do modelo. Para Bruno “do ponto de vista da Constituição Federal, a privatização das penitenciárias é um excrescência”, totalmente inconstitucional, afirma, já que o poder punitivo do Estado não é delegável. “Acontece que o que tem impulsionado isso é um argumento político e muito bem construído. Primeiro se sucateou o sistema penitenciário durante muito tempo, como foi feito durante todo um período de privatizações, (…) para que então se atingisse uma argumentação que justificasse que esses serviços fossem entregues à iniciativa privada”, completa.
Laurindo Minhoto, professor de sociologia na USP e autor de Privatização de presídios e criminalidade, afirma que o Estado está delegando sua função mais primitiva, seu poder punitivo e o monopólio da violência. O Estado, sucateado e sobretudo saturado, assume sua ineficiência e transfere sua função mais básica para empresas que podem realizar o serviço de forma mais “prática”. E essa forma se dá através da obtenção de lucro.
Patrick afirma que o maior perigo desse modelo é o encarceramento em massa. Em um país como o Brasil, com mais de 550 mil presos, quarto lugar no ranking dos países com maior população carcerária do mundo e que em 20 anos (1992-2012) aumentou essa população em 380%, segundo dados do DEPEN, só tende a encarcerar mais e mais. Nos Estados Unidos, explica, o que ocorreu com a privatização desse setor foi um lobby fortíssimo pelo endurecimento das penas e uma repressão policial ainda mais ostensiva. Ou seja, começou a se prender mais e o tempo de permanência na prisão só aumentou. Hoje, as penitenciárias privadas nos EUA são um negócio bilionário que apenas no ano de 2005 movimentou quase 37 bilhões de dólares.

COMO OS PRESÍDIOS PRIVADOS LUCRAM

Nos documentos da PPP de Neves disponíveis no site do governo de Minas Gerais,  fala-se inclusive no “retorno ao investidor”, afinal, são empresas que passaram a cuidar do preso e empresas buscam o lucro. Mas como se dá esse retorno? Como se dá esse lucro?
Um preso “custa” aproximadamente R$ 1.300,00 por mês, podendo variar até R$ 1.700,00, conforme o estado, numa penitenciária pública. Na PPP de Neves, o consórcio de empresas recebe do governo estadual R$ 2.700,00 reais por preso por mês e tem a concessão do presídio por 27 anos, prorrogáveis por 35. Hamilton Mitre, diretor de operações do Gestores Prisionais Associados (GPA), o consórcio de empresas que ganhou a licitação, explica que o pagamento do investimento inicial na construção do presídio se dá gradualmente, dissolvido ao longo dos anos no repasse do estado. E o lucro também. Mitre insiste que com o investimento de R$ 280 milhões – total gasto até agora – na construção do complexo esse “payback”, ou retorno financeiro, só vem depois de alguns anos de funcionamento ou “pleno vôo”, como gosta de dizer.
Especialistas, porém, afirmam que o lucro se dá sobretudo no corte de gastos nas unidades. José de Jesus Filho, assessor jurídico da Pastoral Carcerária, explica: “entraram as empresas ligadas às privatizações das estradas, porque elas são capazes de reduzir custos onde o Estado não reduzia. Então ela [a empresa] ganha por aí e ganha muito mais, pois além de reduzir custos, percebeu, no sistema prisional, uma possibilidade de transformar o preso em fonte de lucro”.
Para Shimizu, em um país como o Brasil, “que tem uma das mais altas cargas tributárias do mundo”, não faz sentido cortar os gastos da população que é “justamente a mais vulnerável e a que menos goza de serviços públicos”. No complexo de Neves, os presos têm 3 minutos para tomar banho e os que trabalham, 3 minutos e meio. Detentos denunciaram que a água de dentro das celas chega a ser cortada durante algumas horas do dia.

O CÚMULO DA PRIVATIZAÇÃO

Outra crítica comum entre os entrevistados foi o fato de o próprio GPA oferecer assistência jurídica aos detentos. No marketing do complexo, essa é uma das bandeiras: “assistência médica, odontológica e jurídica”. Para Patrick, a função é constitucionalmente reservada à Defensoria, que presta assistência gratuita a pessoas que não podem pagar um advogado de confiança. “Diante de uma situação de tortura ou de violação de direitos, essa pessoa vai buscar um advogado contratado pela empresa A para demandar contra a empresa A. Evidentemente isso tudo está arquitetado de uma forma muito perversa”, alerta.
Segundo ele, interessa ao consórcio que, além de haver cada dia mais presos, os que já estão lá sejam mantidos por mais tempo. Uma das cláusula do contrato da PPP de Neves estabelece como uma das “obrigações do poder público” a garantia “de demanda mínima de 90% da capacidade do complexo penal, durante o contrato”. Ou seja, durante os 27 anos do contrato pelo menos 90% das 3336 vagas devem estar sempre ocupadas. A lógica é a seguinte: se o país mudar muito em três décadas, parar de encarcerar e tiver cada dia menos presos, pessoas terão de ser presas para cumprir a cota estabelecida entre o Estado e seu parceiro privado. “Dentro de uma lógica da cidadania, você devia pensar sempre na possibilidade de se ter menos presos e o que acontece ali é exatamente o contrário”, afirma Robson Sávio.
Para ele, “na verdade não se está preocupado com o que vai acontecer depois, se está preocupado com a manutenção do sistema funcionando, e para ele funcionar tem que ter 90% de lotação, porque se não ele não dá lucro”.

PARA GARANTIR A LEI, A ORDEM E A IMAGEM

Na foto, o complexo de Neves é realmente diferente das penitenciárias públicas. É limpo, organizado e altamente automatizado, repleto de câmeras, portões que são abertos por torres de controle, etc, etc, etc. Mas que tipo de preso vai pra lá? Hamilton Mitre, diretor do GPA afirma que “não dá pra falar que o Estado coloca os presos ali de forma a privilegiar o projeto”.
No entanto, Murilo Andrade de Oliveira, subsecretário de Administração Penitenciária do Estado de Minas, diz exatamente o contrário: “nós estabelecemos inicialmente o critério de que [pode ir para a PPP] qualquer preso, podemos dizer assim, do regime fechado, salvo preso de facção criminosa – que a gente não encaminha pra cá – e preso que tem crimes contra os costumes, estupradores. No nosso entendimento esse preso iria atrapalhar o projeto”.
Na visão dos outros entrevistados, a manipulação do perfil do preso pode ser uma maneira de camuflar os resultados da privatização dos presídios. “É muito fácil fazer desses presídios uma janela de visibilidade: ‘olha só como o presídio privado funciona’, claro que funciona, há todo um corte e uma seleção anterior”, diz Bruno Shimizu.
Robson Sávio explica que presos considerados de “maior periculosidade”, “pior comportamento” ou que não querem trabalhar ou estudar são mais difíceis de ressocializar, ou seja, exigiriam investimentos maiores nesse sentido. Na lógica do lucro, portanto, eles iriam mesmo atrapalhar o projeto.
Se há rebeliões, fugas ou qualquer manifestação do tipo, o consórcio é multado e perde parte do repassa de verba. Por isso principalmente o interesse em presos de “bom comportamento”. O subsecretário Murilo afirma ainda que os que não quiserem trabalhar nem estudar podem ser “devolvidos” às penitenciárias públicas: “o ideal seria ter 100% de presos trabalhando, esse é nosso entendimento. Agora, tem presos que realmente não querem estudar, não querem trabalhar, e se for o caso, posteriormente, a gente possa tirá-los (sic), colocar outros que queiram trabalhar e estudar porque a intenção nossa é ter essas 3336 vagas aqui preenchidas com pessoas que trabalhem e estudem”.
Hoje, na PPP de Ribeirão das Neves ainda não são todos os presos que trabalham e estudam e os que têm essa condição se sentem privilegiados em relação aos outros. A reportagem só pôde entrevistar presos no trabalho ou durante as aulas, não foi permitido falar com outros presos, escolhidos aleatoriamente. Foram mostradas todas as instalações da unidade 2 do complexo, tais como enfermaria, oficinas de trabalho, biblioteca e salas de aula, mas não pudemos conversar com presos que não trabalham nem estudam e muito menos andar pelos pavilhões, chamados, no eufemismo do luxo de Neves, de “vivências”.

O TRABALHO DO PRESO: 54% MAIS BARATO

O Estado e o consórcio buscam empresas que se interessem com o trabalho do preso. As empresas do próprio consórcio não podem contratar o trabalho deles a não ser para cuidar das próprias instalações da unidade, como elétrica e limpeza. Então o lucro do consórcio não vem diretamente do trabalho dos presos, mas sim do repasse mensal do estado.
Mas a que empresa não interessaria o trabalho de um preso? As condições de trabalho não são regidas pela CLT, mas sim pela Lei de Execução Penal (LEP), de 1984. Se a Constituição Federal de 1988 diz que nenhum trabalhador pode ganhar menos de um salário mínimo, a LEP afirma que os presos podem ganhar ¾ de um salário mínimo, sem benefícios. Um preso sai até 54% mais barato do que um trabalhador não preso assalariado e com registro em carteira.
O professor Laurindo Minhoto explica: “o lucro que as empresas auferem com esta onda de privatização não vem tanto do trabalho prisional, ou seja, da exploração da mão de obra cativa, mas vem do fato de que os presos se tornaram uma espécie de consumidores cativos dos produtos vendidos pela indústria da segurança e da infra-estrutura necessária à construção de complexos penitenciários”.
Helbert Pitorra, coordenador de atendimento do GPA, na prática, quem coordena o trabalho dos presos, orgulha-se que o complexo está virando um “pólo de EPIs” (equipamentos de proteção individual), ou seja, um pólo na fabricação de equipamentos de segurança. “Eles fabricam dentro da unidade prisional sirenes, alarmes, vários circuitos de segurança, (…) calçados de segurança como coturnos e botas de proteção (…), além de uniformes e artigos militares”.
O que é produzido ali dentro, em preços certamente mais competitivos no mercado alimenta a própria infra-estrutura da unidade. A capa dos coletes à prova de balas que os funcionários do GPA usam é fabricada ali dentro mesmo, a módicos preços, realizados por um preso que custa menos da metade de um trabalhador comum a seu empregador.
Em abril deste ano, o Governo de Minas Gerais foi condenado por terceirização ilícita no presídio de Neves. A Justiça do Trabalho confirmou a ação civil pública do Ministério Público do Trabalho e anulou várias das contratações feitas pelo GPA.
“Entre os postos de trabalho terceirizados estão atividades relacionadas com custódia, guarda, assistência material, jurídica e à saúde, uma afronta à Lei 11.078/04 que classifica como indelegável o poder de polícia e também a outros dispositivos legais. Além de ser uma medida extremamente onerosa para os cofres públicos, poderá dar azo a abusos sem precedentes”, disse o procurador que atuou no caso, Geraldo Emediato de Souza, ao portal mineiro Hoje em dia.

PELO BRASIL

O modelo mineiro de PPP já inspirou projetos semelhantes no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e no Distrito Federal. As licitações já aconteceram ou estão abertas e, em breve, as penitenciárias começarão a ser construídas. O governo do Estado de São Paulo e a Secretaria de Administração Penitenciária também pretendem lançar em breve um edital para a construção de um grande complexo no Estado, com capacidade para 10.500 presos. O governador Geraldo Alckmin já fez consultas públicas e empresas já se mostraram interessadas no projeto.
No Ceará, uma decisão judicial obrigou à iniciativa privada devolver a gestão de penitenciárias para o Governo do estado. No Paraná, o próprio Governo decidiu retomar a administração de uma série de penitenciárias, após avaliar duas questões: a jurídica e a financeira.
No Brasil, país do “bandido bom é bandido morto”, da “bancada da bala” e onde presos não têm direitos simplesmente por estarem presos, a privatização também assusta do ponto de vista da garantia dos direitos humanos dos presos. “Será que num sistema que a sociedade nem quer saber e não está preocupada, como é o prisional, haverá fiscalização e transparência suficiente? Ou será que agora estamos criando a indústria do preso brasileiro?”, pergunta Sávio.
Os entrevistados dão um outro alerta: nesse primeiro momento, vai se investir muito em marketing para que modelos como o de Neves sejam replicados Brasil afora. Hamilton Mitre diz que a unidade será usada como um “cartão de visitas” e fontes afirmam que o modelo de privatização de presídios será plataforma de campanha de Aécio Neves, candidato à presidência nas eleições do fim deste ano.
Para Minhoto, a partir do momento em que você enraíza um interesse econômico e lucrativo na gestão do sistema penitenciário, “o estado cai numa armadilha de muitas vezes ter que abrir mão da melhor opção de política em troca da necessidade de garantir um retorno ao investimento que a iniciativa privada fez na área”, diz. E Bruno Shimizu completa “e isso pode fazer com que a gente crie um monstro do qual a gente talvez não vá mais conseguir se livrar”.
“Para quem investe em determinado produto, no caso o produto humano, o preso, será interessante ter cada vez mais presos. Ou seja, segue-se a mesma lógica do encarceramento em massa. A mesma lógica que gerou o caos, que justificou a privatização dos presídios”, arremata Patrick.
Foto: Peu Robles, em Pátio da penitenciária de Ribeirão de Neves, MG.